segunda-feira, 4 de abril de 2016

Entrevista com o projeto nacional de DSBM Freak Funebre

ENTREVISTA COM O PROJETO NACIONAL DE DSBM
FREAK FUNEBRE

Freak funebre não é de modo algum um novato - desde 2013 esta one man band está firmando uma sólida tradição dentro do DSBM nacional. Em 2014 foi concedida uma entrevista para o Zine Pagan Hammer (em inglês e português aqui) e em 2015 uma nova conversa com o zine Curtindo Metal (que você pode conferir aqui). A nova conversa foi feita via FB.





Rodrigo: Por favor, qual sua idade?
Qual sua primeira memória musical? E quando você começou a gostar de música?
Freak funebre: Tenho 25 anos.
Desde meus 6 anos, mas em relação ao metal extremo conheci aos 17 anos com bandas como: Theatres des vampires e Behemoth. Porém meu maior interesse surgiu por volta de meus 19 anos quando conheci a cena norueguesa (Mayhem, Burzum, Darkthrone, Emperor e Satyricon) isso me jogou de vez no Black Metal e assim conheci bandas de todo o mundo.

Rodrigo: Vc se recorda de qual foi o primeiro disco/cd/tape que comprou?
Me interessa muito saber o que motiva alguém a se tornar músico - como foi esse processo, quais eram suas pretensões? E quando se deu isso?
Freak funebre: De metal extremo foi um cd do Behemoth - Zos Kia Cultus, que comprei em um sebo no centro de SP. Na epoca eu não comprava nada pela internet ainda.
E me lembro de minhas primeiras tapes de metal também, foram elas: Neblina suicida - O fim e Old Throne - O black metal jamais morrerá. Quanto a lps, para ser franco, comecei a comprar este ano e os primeiros foram: Darkthrone, Panzerfaust, e Nocturnal Depression, The cult of negation.
Eu ja tocava violão desde meus 15 ou 16 anos e quando caí de cabeça no Black Metal tinha por volta de 19 anos. Eu havia feito algo pessoal que sempre pensei que ficaria na gaveta o (Necro Winter)... Era uma forma de expressar sentimentos que abordo em minha música. Daí resolvi pôr em prática tudo, porém com o nome de Freak funebre.
Era como poder liberar as trevas que gritavam dentro de mim, em forma de musica.

Rodrigo Delli: Muito bom, vc acaba de mencionar dois assuntos que eu pretendia abordar!
Necro Winter foi seu primeiro projeto? Vc chegou a lançar algo sobre este título?
E como vc chegou ao DSBM?
Freak funebre: Não, o Necro Winter foi uma ideia apenas. Eu cheguei a compor alguns rifs, porém quando chegou a existir algo concreto eu escolhi o nome de Freak funebre.
Assim que eu caí de cabeça no black metal eu conheci muitas bandas do mundo inteiro. Aí conheci bandas como Xasthur e Nocturnal Depression que chamaram muito minha atenção por terem uma atmosfera melancólica.



Rodrigo: Seu trabalho é de uma melancolia funesta e bastante densa. Vc sempre foi uma pessoa negativa? Como vc vê a si mesmo frente ao mundo e à existência?
Freak funebre: Eu sempre pensei da seguinte forme: estamos morrendo a cada segundo, a cada ano que passa perdemos ente queridos. O tempo faz com que nós murchemos. Pode soar meio dramático, mas não deixa de ser uma realidade. "avec le temps va tout s'en va".
Com o passar do tempo vivemos cada vez mais de lembranças. Enquanto desejamos profundamente esquecer outras.
O mundo é um lugar de sofrimento e depois que morremos tudo acaba. Aí vem a maior questão: pra que sofrer? Logo: por que viver?

Referente ao mundo: vejo ele infestado de pessoas vazias e imundas.
Falta sinceridade nelas, falta inteligência. 
É um mundo maldito de pessoas inúteis. E eu sou um fracassado nesse mundo.
O Niilismo e a Misantropia definem bem minha posição quanto a isso.

Rodrigo:  Pesado...
Freak funebre:  Sempre existiu um negativismo em mim e isso fez eu me identificar muito com o DSBM. É como quando você fica neurotico achando que algum autor lhe conhece por se identificar tanto com a obra.

Rodrigo: Eu queria perguntar exatamente isso, sem saber bem o como...
Comigo, quando eu descobri o DSBM, foi como encontrar algo que eu procurava há anos, algo que acalmou minha mente, algo com que me sintonizei...
Freak funebre: Sim, quando você se identifica realmente a coisa faz sentido...

Rodrigo: A música te liberta, te alivia de algum modo? Ao expressar estes sentimentos em música vc consegue se sentir melhor?
Freak funebre: Não diria que me sinto melhor, mas também não acho que piore. É apenas algo que se reflete em forma de arte, todos estes sentimentos que possuo.

Rodrigo: Perguntei porque muitos consideram o processo artístico algo muito prazeroso e realizador - mas no caso do DSBM isso se confunde com produzir e vivenciar sentimentos negativos e mesmo autodestrutivos.
Freak funebre: Sim, para muitos a musica é uma válvula de escape, pra mim não! Entretanto ela não agrava nenhum sentimento negativo em mim.
Não sei quanto à outras pessoas no DSBM, mas no meu caso não.

Rodrigo: O material da Necro Winter é o que está em sua primeira demo?
Freak funebre:  Não. O Necro Winter não chegou a se concretizar e nem a ter nenhuma música concluída. Apenas pedaços, pois logo renomeei o projeto para Freak funebre

Rodrigo: Certo. Como foi para vc a gravação da demo? Quanto tempo você trabalhou em sua composição? E como foi, na sequência, o processo de buscar levar ela ao mundo?
Freak funebre: Foi um trabalho bem complicado em consequência da minha inexperiência. Não sei ao certo quanto tempo levei, mas calculo que foram cerca de 3 meses. Essa demo só teve um lançamento digno em 2014, por um selo nacional, e não teve muita divulgação pois é o meu único trabalho que não foi lançado la fora.

Rodrigo: Teve duas prensagens, certo?
Freak funebre: Sim, mas renego "a primeira" por nunca ter saído de fato. Pois o selo que iria lançar não passa de de uma fraude, o que eu não sabia. Apenas a segunda pode ser considerada um lançamento oficial.

Rodrigo: O lançamento da [distro] Fúnebres Lamentos não saiu???
Freak funebre: Não.

Rodrigo: Lamentável.
Freak funebre: Nunca me mandaram cópia alguma e sequer foto das supostas copias.
Por muitas vezes recebi a mensagem "a foto não esta carregando"... lamentável.
E isso é bem comum, infelizmente. E a maioria das bandas, quando começam, tropeçam com esse tipo de situação.


Rodrigo: Podemos perceber muitos elementos da demo em seu trabalho seguinte, Nictofilia - mas trata-se de um trabalho bem mais maduro. Como se deu esse passo adiante?
Freak funebre: Eu sempre estudo sobre depressão e diversos outros elementos que acho interessantes, como: misantropia, eutanásia, nictofilia, dentre outras coisas.
Isso enriqueceu bastante a temática das letras para esse trabalho, à medida em que eu estava um pouco mais experiente com gravação e com processos de edição, então pude agregar novos elementos em virtude destes 'progressos'. E também comecei a utilizar teclado, algo completamente novo pra mim.

Rodrigo: Ótimo!
Este trabalho foi lançado em diversos formatos e por grandes selos.
Freak funebre: Foi lançado pela Depressive Illusions, da Ucrânia, em tape; pela CVLMINIS, da Rússia, em pro cdr e digital; e ainda pela Amenti Rec, do México, em pro cdr slim e digital.

Rodrigo: Sim, eu diria que é um ótimo reconhecimento dentro do underground!
No ano seguinte você lançou um EP e um full. Como foi a composição e a produção destes títulos?
Freak funebre: O EP Tristes lembranças de um passado trágico aborda basicamente traumas e lembranças que gostaríamos de esquecer.
Meu full segue com os mesmos temas líricos que abordo em meus trabalhos, porém mais voltado à misantropia e à escuridão. Foi bem trabalhoso fazê-lo.
Esse álbum tem também um cover do Mutiilation.


Rodrigo: Por favor, nos fale sobre o seu processo de composição. Como funciona, quanto tempo leva? Você faz tudo em casa ou usa estúdios?
Freak funebre: O processo que uso é bem simples.
Eu só componho algo quando estou realmente inspirado e sentindo os sentimentos que busco transmitir à minha musica.
A parte instrumental não é diferente, eu sempre componho a base da guitarra e a gravo para assim ir complementando com outros riffs e encaixar a bateria, fazendo alguns ajustes depois. 
Como uma one man band eu preciso gravar a base para compor o restante, já que é a forma de ensaiar.
Gravo tudo em casa mesmo e nunca utilizei estúdio [profissional].

Rodrigo: O que é orgânico e o que é feito sinteticamente?
Vc tem um quarto de música?
Freak funebre: A guitarra e o vocal. Sinteticamente seria a bateria e o teclado. Na verdade não tenho, utilizo meu quarto mesmo. Conecto a guitarra no pc e gravo com os softwares que utilizo; e meus poucos equipamentos, que se resumem a uma uma guitarra com pedaleira e um amplificador. Tenho um violão também e já o usei em algumas músicas.

Rodrigo: O piano é sintetizado, também? Parece orgânico!
Freak funebre: O piano é sintético sim, entretanto eu realmente o toco pois não é programado, eu uso um software que me permite usar teclas do teclado do computador como teclas do piano.

Rodrigo: Pela sua fala, podemos presumir que a sua inspiração vem antes de um impulso pessoal do que propriamente artístico.
Freak funebre: Sim, realmente...
No inicio é apenas um sentimento ruim e vazio... que eu dou forma através das letras que faço.
Muitas vezes é até um sentimento confuso, então eu sempre escrevo letras de forma rápida, "escrita de livre associação", para depois pegar o que escrevi e transformar em música. Isso demora um pouco, mas é a forma que uso.

Rodrigo: Vc já falou um pouco sobre as dimensões negativas da sua vida. Vc já fez tratamento psicológico ou psquiátrico?
Freak funebre: Nunca fiz nenhum tratamento, mas já tive vontade de fazer.
Minha vida sempre foi negativa, quando mais jovem eu via pessoas, também jovens, se divertindo de um jeito que eu não sabia. Eu queria sentir aquilo, mas eu sabia que se tentasse estaria fingindo, queria me sentir como eles. 
O álcool me ajudava nisso, embora fosse uma felicidade de horas apenas. Nunca fui alcoólatra mas isso me ajudou na juventude. Hoje sei conviver com isso. Percebi que não ha nada de errado comigo, mas sim na doentia humanidade que sempre tinha algo podre que eu desconhecia.

Rodrigo: Como você avalia a recepção do público à sua música?
Freak funebre: Na verdade não recebo muito apoio.
Mas as poucas pessoas que me apoiam elogiam minha originalidade e a atmosfera doentia contida em minhas músicas. Isso faz com que eu me sinta satisfeito com o trabalho, faz eu sentir que realmente consegui passar os sentimentos que queria através de minha musica.
E uma coisa que sempre priorizei é manter minha arte conforme meus reais sentimentos. Sem me importar com público ou com quantas pessoas irão ouvir.
Faço minha arte pra mim... e para refletir meus obscuros e perturbadores pensamentos.
Mas sou grato a quem realmente aprecia e apoia meu trabalho. E me fala o que sentiu ao ouvir as obras.

Rodrigo: O que devemos esperar para 2016?
Freak funebre: Não sei dizer... mas ate 2018 posso dizer que lançarei outro álbum oficial, que aliás pretendo lançar um pouco antes, talvez em 2017.

Rodrigo: Vc já começou a compor?
Freak funebre: Tenho uma música sim, mas está apenas no papel.
O inverno desse ano [2016] ainda está por vir, é a época em que mais me inspiro. Mas não sei o quanto irei produzir, de qualquer modo.

Rodrigo: Aliás, você escolhe/produz as artes dos álbuns?
Freak funebre: Sim, eu que escolho. Quanto ao álbum e ao EP eu tive a permissão de utilizar a arte da minha amiga Jeanine Gebele, uma grande artista alemã. Em alguns materiais em mesmo produzi toda a edição das capas.
Em outras eu tive a ajuda de um amigo, que as fez por completo e até já escolheu a arte em alguns lançamentos.

Rodrigo: Ano a ano o universo do BM aumenta. Você gostaria de comentar o desenvolvimento do gênero? Quais bandas/projetos você admira?
Freak funebre: Essa pergunta é bem interessante.
Realmente ano após ano surgem muitas bandas, isso se deve à maior facilidade de informação e de poder gravar algo, nos dias de hoje
Mas isso gera uma cena muito fraca por muitas pessoas. Algo muito imaturo. O som é importante, mas não devemos nos focar apenas nas músicas e deixar a ideologia de lado. Mas existe também o oposto que são pessoas que só apoiam bandas 80's e 90's, algo que considero ser um pensamento igualmente fraco pois tem muitas bandas novas que merecem respeito e apoio.
Bom, citarei as bandas e projetos que mais gosto:

Carpe Noctem (Isl)
Dysthymia (Isl)
Mütiilation (Fra)
Belketre (Fra)
Moevot (Fra)
Drowning the light (Aus)
Leviathan (EUA)
Anti (Ale)
Xasthur (EUA)
Spell forest (Bra)
Vulturine (Bra)
Neblina suicida (Bra)
Old throne (Bra)
Regnum umbra ignis (Bra)
VII arcano (Ita) (Somente o EP Gateway my blood forever)
Depressive years (EUA)
Aakon Keetreh(Fra)
Darkthrone (Nor)
Coldworld (Ale)
Bonjour tristesse (Ale)
Gorgoroth (Nor)
Satyricon (Nor)
Goatvomit666 (Uki)
Graveland (Pol)
Teratism (EUA)
Judas Iscariot (EUA)

Entre outros

Rodrigo: Ótimas referências! Depressive Years também está entre as minhas favoritas.
Freak funebre: Eu poderia citar muitas bandas mais, mas essa lista já esta bem extensa.

Rodrigo: Ainda no terreno dos gostos musicais, existe alguma banda/projeto underground que você acredita que deveria receber maior reconhecimento ou que você gostaria de recomendar aos fãs?
Freak funebre: Bom eu citei as bandas que mais gosto e dentre elas algumas não são tão reconhecidas como deveriam, acho que as bandas norueguesas e alemãs todos conhecem, mas algumas que merecem mais reconhecimento são Goatvomit666, Dysthymia e uma banda chamada Sadael, da Armênia, essas 3 são bandas fantásticas e sérias mas não vejo quase ninguém falando sobre as mesmas.

Ate mandarei um link de uma música do Sadael para vocês ouvirem:





Rodrigo: Sinistro! Realmente esta trinca é bem underground! Tenho certeza de que algumas pessoas poderão curtir muito!



Rodrigo: Bem, eu não tenho palavras para agradecê-lo pela atenção!
Freak funebre: Eu que agradeço a oportunidade e o interesse pelo meu trabalho!

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